Ali Bjur

quinta-feira, outubro 19, 2006

Nesta manhã

De bom grado, estava sentado de manhã na calçada de minha casa a observar o movimento das pequenas coisas. Tinha me esquecido de como é gostoso acordar sem compromissos e de chinelo e pouca roupa caminhar pelo jardim enquanto seguro com minha mão direita, um tão admirado café-com-leite matinal, sentir a brisa fresca tocar o rosto, que se põem a me despertar por completo e observar as cores, que como eu, despertam também no horizonte. Observar o balet ritmado pelo vento das palmeiras reais e ouvir a sinfonia das aves anunciando um novo dia.

Tinha me esquecido de como é importante cumprimentar o vizinho nesta manhã de sol, caminhando, lembro o quão gostoso é caminhar. Lembro da importância também de pegar a chave que caiu do bolso da moça e correr para devolvê-la, mais importante ainda, é dar um abraço apertado em quem você gosta, e dizer te amo, dizer um te amo forte e aproveitar esta oportunidade, pois não se sabe quando e nem aonde a próxima virá.

Nesta manhã, quero dar um pouco de olhos ao cego, ouvido ao surdo e boca ao mudo, quero dar pernas a quem não as pode usar, e saúde a quem desta lhe falta um bocado. Mas acima de tudo, eu quero mesmo é dar um pouco de respeito a quem este ignora, humildade a quem o orgulho corrompeu, honestidade a quem deste não usou e vergonha a quem o picadeiro não assusta mais. Eu quero dar um coração a quem no peito não bate nada, e sabe por quê? Porque hoje, especialmente hoje, tinha me esquecido, apesar de tudo, de ser feliz.

Ali.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Rosa-dos-ventos


Queria mesmo é viajar, desembestar mundo afora. Escalar os gélidos picos do Himalaia a caminhar pelas escaldantes planícies africanas, penetrar nas verdejantes florestas tropicais a me arriscar pela vermelhidão dos canyons americanos. Queria mesmo é viajar, juntar-me aos austeros monges tibetanos a pular com os barulhentos beberrões alemães, festejar a italiana a comer burritos.

Quero ir onde o sol nasce primeiro e os pássaros são mais afinados, onde as nuvens têm mais formas e o céu mais estrelas. Quero o ocidente e o oriente, o austral e o boreal. Quero a verdade e a mentira, o certo e o errado. Quero conhecer o mundo, e quero me conhecer.

Ali.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Pilares de mentiras



Montaram um circo! Bonito, grandioso, com um picadeiro digno de qualquer artista no auge de sua carreira. A arquibancada é grande, aloja muita gente e com um conforto de se estranhar. As atrações são magníficas, trazidas dos quatro cantos do mundo. Parece uma cidade dentro da cidade, tamanho suas instalações.

Acabo de acordar, ainda estou tonto, sem meu óculos está tudo embaçado. Mas que lugar estranho, não me lembro de ter dormido aqui, aliás, não me lembro do dia de ontem. Onde será que estou? O que aconteceu? É um quarto comprido, com várias mesinhas com luz e espelho, olha lá! Tem alguém vindo. Acenou para mim, mas... Eu conheço essa pessoa? Eu nem sei onde estou. Que estranho... Tudo me é estranho. Que dor de cabeça!

Ah! Meu óculos. Agora está melhor. Quantas mesas, fantasias e maquiagem espalhada por todo lado. Eu estou num camarim? Meu nome! Olhe, está escrito Eduardo aqui. É, Eduardo mesmo, eu estou vendo. E essa roupa tão colorida? Quanta roupa! Que estranho. Onde fui ontem? Minha cabeça ainda dói. Que legal! Uma bozina. Sempre quis ter uma. Uall! Que sapatos grandes. Um nariz? Nariz vermelho? Nãão! Estão me chamando. Eu? O que foi? Abriram uma porta. Ai minha cabeça! Que barulho é esse? Aplausos? Estão me chamando! Uma mulher acena freneticamente. Estou caminhando. Todos me olham. Ai! Tropecei no meu sapato. Que sapato grande é esse? Pra que estou usando? Essa roupa colorida! Estou vestido de palhaço? O que? Palhaço? Eu sou um palhaço???

È perturbador quando armam um verdadeiro circo sustentado por mentiras, esqueceram de te avisar, mas você é a atração principal, cedo ou tarde descobre isso, e a surpresa abala.


Ali.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Em um lugar gostoso, fresco e isolado



É um dia descontraído entre amigos num lugar gostoso, fresco e isolado, aqueles dias que comemos e falamos bobagens, jogamos carta ou mergulhamos numa represa. São ótimos dias assim, não lembramos de nada, apenas nos divertimos. E é um dos casos também, que observamos a natureza, o céu principalmente.

Longe de arranha-céus e luzes ofuscantes, o céu se torna um verdadeiro palco para as constelações e estrelas cadentes, um show único e inesquecível, principalmente ao lado de alguém especial. É certo que você já vivenciou situações como esta, e sabe do que estou falando. Um céu sólido, brilhante, em tom vivo e escala grandiosa. Tantas estrelas como nunca imaginou.

- Nossa! Ta bonito o céu, né?

- É, ta mesmo. Olha quanta estrela. Fazia tempo que não via tantas assim.

- Ai que frio! Rrrrrr...

- Frio assim que é gostoso, com um céu desse então. Ficaria horas aqui só olhando.

- Ta gostoso mesmo, deitar olhando pro céu é ótimo! Óóó! Uma estrela cadente. Viu? Viu?

- Não. Onde?

- Já passou, não viu não?

- Não. Que grilo. Bem na hora que olhei para baixo.

- Olha o tamanho desse céu. É grande de mais. E pensar que a Terra é só um pontinho no universo.

- É verdade. Se pensarmos na totalidade, a Terra é muito pequena. Ou o Tudo que é muito grande?

- Que Tudo? Nós não sabemos nem mesmo o que é Tudo. Será que existe mesmo um Tudo? Um fim? Mesmo que tenha, é impossível delimitarmos isso.

- Pra você ver quão pequeno somos. E pensar que não sabemos de nada. Imagine o que tem por traz destas estrelas. Putz! Um universo inteiro desconhecido de um tamanho inimaginável. E somos os únicos seres pensantes? Ou será que estamos imersos na ignorância? E se conceitos concretos atuais fossem desmantelados?

- É assustador pensar assim. Mas totalmente aceitável. Se pensarmos na história, é muito provável que verdades concretas não sejam tão concretas assim. Lembra da história no começo das grandes navegações, do povo acreditar que a Terra seria quadrada, e depois ser provado que não? Então? Imagine se algo nesta escala vir à tona. Uma verdade simples, pura e grandiosa ser uma ilusão e mudar o jeito de pensarmos. Estamos tão condicionados a tais preceitos, que não enxergaríamos o novo, ao menos demoraríamos bastante a nos acostumar. Seria no mínimo caótico. Novas perspectivas do que é real surgiria, marcando uma era.

- Pois é. Mas na alienação atual que a sociedade é submetida, algo revolucionário e tão intrigante como estas suposições seriam fatalmente censuradas.

- É triste ver onde chegou a submissão popular.

- É assustador. Olhe! Outra estrela cadente!

- Vi! Vi! Tava olhando bem onde ela passou. Nossa! Passou muito rápido.

- É. Faz um pedido.

- To fazendo...

- As vezes tenho a sensação que sou vigiado constantemente. Mas não por alguém próximo. É difícil explicar, mas é como se fossemos parte de algo grande. Quando falo grande, falo de algo descomunal, até mesmo interplanetário, como se nossa mente fosse uma pequena peça de um feito enorme. Como uma engrenagem. Ela desempenha sua função, mas sem saber o produto final, sem saber o porque de realizar tal tarefa. E não se pergunta, não desperta para a curiosidade, pois esta, é uma realidade muito distante da sua. E vive feliz, imerso pela obscuridade da falta de conhecimento.

- Nossa! Não tinha parado para pensar desta maneira. As vezes respostas que tanto procuramos em tantos lugares, pode estar dentro de nós. E acredito que está. Acredito que podemos fazer nossa própria realidade. Essas são questões que incomodam, não ter respostas é no mínimo intrigante.

- Já deveríamos ter nos acostumados à ignorância. Tanto tempo submerso a ela, sem resposta a tudo. A falta de conhecimento faz parte de nossa história. Deveríamos então, aceitá-la, deixar que tome conta, e não travar esta luta as escuras por toda nossa existência.

- Ao menos que esse seja o propósito da vida.

Ali Bjur.

terça-feira, outubro 10, 2006

Apresentação

Olá,

Bem vindo a este blog recém-nascido, frágil e que mal sabe andar. Aspira idéias bagunçadas de uma criança curiosa, destreinada e em seus primeiros suspiros e passos errantes.

Este, como vocês já observaram, é um espaço para a publicação de idéias, acontecimentos ou mesmo desabafos. Um estímulo ao escritor, um exercício poderoso a mente. Vincularei aleatoriamente, textos que mostram um pouco de minha realidade ou anseios, pensamentos ou acontecimentos, verdades ou mentiras. Espero que aqui, possa de algo tirar proveito.

Até uma próxima.
Abraços, Ali.

Construindo...

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